terça-feira, 15 de setembro de 2009

Prazeres que o cigarro tira


Com o objetivo de fugir da rotina, um grupo de amigos combina um final de semana no campo. Já no caminho, eles se empolgam pensando nas possibilidades de aventuras que a natureza local lhes reserva. No primeiro dia, logo pela manhã, iniciam uma trilha de alguns quilômetros até uma bela cachoeira. O grupo mantém um bom ritmo na caminhada, exceto por um deles, que, aos poucos, vai sentindo o fôlego sumir e as pernas ficarem mais lentas, enquanto os companheiros se distanciam à sua frente...
Este é apenas um exemplo das inúmeras situações pelas quais os fumantes passam ao praticarem uma atividade física. Algo que antes era tão simples e prazeroso, como uma caminhada, começa a ficar paulatinamente mais difícil.
Estudos da década de 80 já demonstravam que o tabagismo prejudica a capacidade do pulmão de absorver a quantidade necessária de oxigênio do ambiente e de difundi-lo ao sangue que o transporta até os músculos e órgãos. Primeiramente, com o tempo, o tabagismo provoca uma inflamação nas vias aéreas. Nos pulmões, a fumaça agride as células e destrói, aos poucos, as estruturas chamadas alvéolos, responsáveis pela oxigenação do sangue, que ocorre quando ele passa por esses elementos pulmonares. Finalmente, ainda que se otimize a entrada de ar, a proteína responsável por transportar o oxigênio dos pulmões para o resto do corpo denominada hemoglobina – que se encontra no interior do glóbulo vermelho, no sangue – perde um pouco da sua eficácia. Isso ocorre porque parte da hemoglobina deixa de se ligar à molécula de oxigênio para se ligar à molécula de monóxido de carbono, presente na fumaça do tabaco. Assim, os glóbulos vermelhos chegam a transportar até 10% a menos de oxigênio aos músculos e às outras partes do corpo, segundo o site do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
Olfato e paladar prejudicadosDepois de algumas investidas, o cavalheiro enfim consegue agendar um jantar romântico com sua dama naquele novo e requintado restaurante. Enquanto aguarda a dama na porta da casa dela, ele acende um cigarro. A dama se apresenta estonteante, com o toque especial de um suave e delicado perfume. O cavalheiro apenas comenta da elegância de sua roupa e penteado. Já no restaurante, pedem para degustar um bom vinho antes da refeição. O garçom lhes traz algumas opções. O cavalheiro cheira e degusta o primeiro, depois o segundo, em seguida o terceiro. Não percebe muita diferença, então opta pelo último. A dama olha com certa desconfiança. O jantar prossegue com a refeição. Ambos são apreciadores da boa culinária, mas o cavalheiro parece não deliciar-se tanto da comida quanto a dama. Nem mesmo a cara sobremesa surpreende seu paladar...
Tanto o olfato quanto o paladar são prejudicados com o consumo contínuo do cigarro. Uma revisão de 2008 sobre o tema, publicada na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, concluiu que a exposição ao fumo parece alterar significativamente os receptores da mucosa do nariz e da boca, componentes celulares que participam do processo fisiológico que resulta nessas sensações.
A presença de certas substâncias agressoras e a temperatura quente da fumaça causam alterações na superfície da mucosa nasal, gerando sensação de queimação, dor e prejuízo na capacidade de diferenciar ou identificar aromas suaves. Não suficiente, fumar parece diminuir a sensibilidade das papilas gustativas quanto à percepção de alimentos salgados, amargos e doces. Assim, as comidas perdem um pouco do sabor e, consequentemente, do prazer que proporcionam.
E se você conheceu algum fumante que já não sorri tanto quando se olha no espelho, saiba que a ciência tem dado algumas explicações para isso. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo também agride a pele, fazendo com que os fumantes aparentem ter até dez anos a mais que a idade real. Além disso, facilita a perda prematura de dentes e mancha o esmalte, deixando um sorriso literalmente amarelo.
Fumar, além de prejudicar a saúde, também atrapalha as pequenas coisas que deixam a vida mais gostosa.

Texto de Thiago Pavin; psicólogo da área de Gestão de Saúde do Fleury

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